segunda-feira, dezembro 17, 2007

Para onde irá o dia, quando por trás dos telhados se esconder?

Para onde irá o dia, quando por trás dos telhados se esconder?
Ainda à pouco nasceu, trazendo com ele a esperança de uma mudança.
Mudou alguma coisa? Claro que mudou! Como um moinho temporal, transformou a felicidade em tristeza e a tristeza em felicidade. Trouxe também a sua sabedoria, que deixou vincada na pele e no cabelo. Deixou momentos…pequenos raios de luz com que a vida é feita e nos faz. Apresentou-nos novas caras, que entram na nossa vida como aqueles que saem, deixando todos eles, como os dias…momentos, que no final, não são mais do que raios de luz, dentro de nossa cabeça.
Agora que o dia se esconde por trás dos telhados, percebo a beleza que tem o fim. Quando a vida, mais não será, do que uma imagem linda de todos os momentos.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Uma volta ausente


Cheguei! Tão simples como quem chega a uma paragem de autocarro ou a casa e coloca a chave na porta, nisto, o acto é mundano, repetível aqui como em qualquer parte do mundo, o que o torna diferente e inigualável é a nossa capacidade de o vermos para além da sua superficialidade.
Pousei as malas e corri para a janela do quarto, abri as portas de madeira pintadas de azul escuro, como quem violenta um segredo à muito guardado. Era real! Via através dos telhados do prédio em frente que não distanciava mais que um metro e meio. O beco estreito, sem saída de um lado e com vista para um largo iluminado do outro. Ao alto a lua engalanada sorria na noite amena. Aceitei o convite e saí. Pisando as lajes de pedra escura e húmidas do caminho que acompanha o canal, vejo nele, o reflexo das luzes dançando nas calmas aguas apenas vibradas pelas gôndolas, uma valsa ou um tango, não sei precisar. Tentando fundir-me com a cidade entrego-me às ruas mal iluminadas, sigo o instinto como fosse um diálogo entre nós, vai por aqui…vai por ali. Por mim passam sorrisos na media luz, que reencontro vezes sem conta como se fizéssemos parte da mesma dança. As ruelas, canais, pontes e praças parecem pautas onde as notas circulam livremente. Por vezes, nalgumas ruelas sem luz, a lua graceja e esconde-se deixando apenas uma luz azul escura que se esbate em sons melancolicos. Já com o passo acertado, a dança torna-se uma busca pela sinfonia que ricocheteia entre os prédios que, com as suas roupas ricas, desfilam como participantes activos de um baile de máscaras, nos guiando para o salão de festas para onde confluem todos os sons. Em San Marco toda a música deixa de ser abstracta e formaliza-se. Por cima das arcadas que nos cercam como estivessemos dentro de um piano, em algumas das janelas, vêm-se as luzes dos candeeiros de cristal acesas, revelando os interiores luxuriantes e no exterior, no ambiente luminoso dos lampiões da praça que não lhes ficam atrás, ouvem-se os sinfonistas dos magníficos bares em plena desgarrada pela beleza sinfónica, os amantes fazendo juras de amor assim como os gigolos, a basílica de San Marco, com as suas pinturas douradas que parecem saltar das pedras, a sua torre, como cicerone da piazza e da cidade, o palazzo do Doge, que nos convida a atravessar o olhar para além das colunas da cidade e a reparar na basílica de San Giorgio Maggior do outro lado do Gran Canale por trás do porto dos vaporetos que fica junto ao cais das gôndolas.
É essa volta a Veneza que sinto quando oiço música clássica.