A baixa resolução pretende ser um espaço de pensamentos "desmundanos". O ser humano tem uma visão de baixa resolução para com o mundo. Este blog é apenas um dos pontos.
Para onde irá o dia, quando por trás dos telhados se esconder?
Ainda à pouco nasceu, trazendo com ele a esperança de uma mudança.
Mudou alguma coisa? Claro que mudou! Como um moinho temporal, transformou a felicidade em tristeza e a tristeza em felicidade. Trouxe também a sua sabedoria, que deixou vincada na pele e no cabelo. Deixou momentos…pequenos raios de luz com que a vida é feita e nos faz. Apresentou-nos novas caras, que entram na nossa vida como aqueles que saem, deixando todos eles, como os dias…momentos, que no final, não são mais do que raios de luz, dentro de nossa cabeça.
Agora que o dia se esconde por trás dos telhados, percebo a beleza que tem o fim. Quando a vida, mais não será, do que uma imagem linda de todos os momentos.
Cheguei! Tão simples como quem chega a uma paragem de autocarro ou a casa e coloca a chave na porta, nisto, o acto é mundano, repetível aqui como em qualquer parte do mundo, o que o torna diferente e inigualável é a nossa capacidade de o vermos para além da sua superficialidade.
Pousei as malas e corri para a janela do quarto, abri as portas de madeira pintadas de azul escuro, como quem violenta um segredo à muito guardado. Era real! Via através dos telhados do prédio em frente que não distanciava mais que um metro e meio. O beco estreito, sem saída de um lado e com vista para um largo iluminado do outro. Ao alto a lua engalanada sorria na noite amena. Aceitei o convite e saí. Pisando as lajes de pedra escura e húmidas do caminho que acompanha o canal, vejo nele, o reflexo das luzes dançando nas calmas aguas apenas vibradas pelas gôndolas, uma valsa ou um tango, não sei precisar. Tentando fundir-me com a cidade entrego-me às ruas mal iluminadas, sigo o instinto como fosse um diálogo entre nós, vai por aqui…vai por ali. Por mim passam sorrisos na media luz, que reencontro vezes sem conta como se fizéssemos parte da mesma dança. As ruelas, canais, pontes e praças parecem pautas onde as notas circulam livremente. Por vezes, nalgumas ruelas sem luz, a lua graceja e esconde-se deixando apenas uma luz azul escura que se esbate em sons melancolicos. Já com o passo acertado, a dança torna-se uma busca pela sinfonia que ricocheteia entre os prédios que, com as suas roupas ricas, desfilam como participantes activos de um baile de máscaras, nos guiando para o salão de festas para onde confluem todos os sons. Em San Marco toda a música deixa de ser abstracta e formaliza-se. Por cima das arcadas que nos cercam como estivessemos dentro de um piano, em algumas das janelas, vêm-se as luzes dos candeeiros de cristal acesas, revelando os interiores luxuriantes e no exterior, no ambiente luminoso dos lampiões da praça que não lhes ficam atrás, ouvem-se os sinfonistas dos magníficos bares em plena desgarrada pela beleza sinfónica, os amantes fazendo juras de amor assim como os gigolos, a basílica de San Marco, com as suas pinturas douradas que parecem saltar das pedras, a sua torre, como cicerone da piazza e da cidade, o palazzo do Doge, que nos convida a atravessar o olhar para além das colunas da cidade e a reparar na basílica de San Giorgio Maggior do outro lado do Gran Canale por trás do porto dos vaporetos que fica junto ao cais das gôndolas.
É essa volta a Veneza que sinto quando oiço música clássica.
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mão à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! Era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! e eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos, no tempo em que o teu corpo era um aquário, no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor..., já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas.
Procurei o Desejo entre a luz do sul. Quanto mais fundo indagava mais a mescla se revelava. Unidos os sentidos tudo se aclarava. As caras por vezes, pareciam os espelhos de quem os olhava. Sobre a cal imprimiam as suas cores dia e noite. No ar haviam estradas de cheiros fortes que se entrosavam criando aromas como se fossem novas cores. As mãos personalizadas, estavam por todo lado, desde portas até à derme. O Desejo esse estava escondido atrás de lenços e janelas, feitos de uma geometria de formas, cores e cheiros para me seduzir e afastar.
Houve uma época que te vestias tão bem, no teu auge atiravas um centavo para os vagabundos, não era? As pessoas avisavam-te dizendo, "Toma cuidado, boneca, estás destinada a cair". pensavas que estavam todos a brincar contigo, costumavas rir de Toda gente de que estavam desperdiçar tempo. Agora já não falas de tão alto, Agora não pareces tão orgulhosa A respeito de teres que pedir a tua próxima refeição. Qual a sensação? Qual a sensação? De ficares sem um lar? Como uma completa desconhecida, Como uma pedra rolante? Frequentas-te as melhores escolas, tudo bem, Srta. Solitária, Mas sabes que dentro delas só costumavas ser espremida. E que jamais alguém te ensinou a como viver na rua, E agora descobriste que vais ter de te acostumar a isso. Disseste que nunca te comprometerias Com a rotina de trabalho, mas agora percebes-te que Ele não está negociando nenhum pretexto Enquanto olhas dentro do vazio dos olhos dele E perguntas-lhe: "queres fazer um acordo?" Qual a sensação? Qual a sensação? De estar por sua própria conta, Sem nenhum rumo para casa ? Como uma completa desconhecida, Como uma pedra rolante ? nunca te voltas-te para veres os olhares carrancudos Nos malabaristas e palhaços, Quando eles todos se humilhavam e faziam truques para ti. Nunca compreendeste que isso é inútil, Não devias permitir que outras pessoas levassem pontapés por ti. costumavas andar no cavalo cromado com o teu diplomata, Que carregava em ombros um gato siamês. Não é duro quando descobres que Ele realmente não estava onde está Após ele tirar–te tudo que podia roubar? Qual a sensação? Qual a sensação? De estares por tua própria conta, Sem nenhum rumo para casa ? Como uma completa desconhecida, Como uma pedra rolante? Princesa na torre e todas as lindas pessoas Estão bebendo, pensando que já têm a vida ganha, Trocando todos os tipos de presentes e coisas valiosas. Mas seria melhor que levantasses o teu anel de diamante, Seria melhor penhorá-lo, bébé. Costumavas ficar tão entretida [por] Aquele Napoleão vestido de trapos e pela linguagem que ele usava, Vai agora para ele, está a chamar-te, não podes recusar. Quando não tens nada, não tens nada a perder, Agora estás invisível, não tens segredos para esconder. Qual a sensação? Qual a sensação De estar por sua própria conta, Sem nenhum rumo para casa? Como uma completa desconhecida, Como uma pedra rolante?
DL - Os homens... porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de tal forma, que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... ... e morrem como se nunca tivessem vivido